
Temporada do Borussia teve uma dose muito alta de fracasso
Fracasso é uma palavra que pode parecer mais dura do que realmente é. Todavia, nada mais é do que falhar no alcance dos objetivos traçados, um revés, um grande insucesso. Se discordam, acompanhem comigo. O oposto de fracasso seria sucesso. Em que exatamente o Dortmund teve sucesso na temporada? Eliminado de forma precoce na Pokal, figurante na Champions League e vice de novo na Bundesliga, o saldo da temporada é pior do que nos últimos anos e, sobretudo, mais frustrante. Se inexistiu sucesso, portanto, é sim um fracasso.
Não é perder a liga por dois pontos de diferença que faz do Borussia Dortmund uma equipe menos digna de cumprimentos pelo que apresentou de positivo. Por sinal, analisando apenas a tabela em retrospectiva qualquer palpiteiro pouco informado é capaz de dizer com relativa certeza que o Dortmund fez frente ao Bayern de Munique na temporada. O que não é mentira, em termos.
O que tornam as críticas ao Borussia ácidas – e corretas – são as circunstâncias nas quais a liga mais uma vez caiu no colo do Bayern de Munique, mesmo depois de um primeiro turno de Bundesliga aquém do esperado. Os aurinegros chegaram a contar com uma vantagem de sete pontos na liderança do Campeonato Alemão e permitiram uma virada de nove pontos em um único turno. Como se a reviravolta no topo da tabela não fosse suficiente, o Dortmund ainda acumulou na metade e, principalmente, na reta final da liga uma sequência de tropeços injustificáveis. Não fosse por isso, muito provavelmente teria até retomado a liderança nas rodadas finais e conquistado o título.

É desleal recorrer ao fato de que esta foi a terceira melhor pontuação do Borussia Dortmund na era moderna da Bundesliga para afirmar que o ano não foi um fracasso. A palavra é dura, mas adequada para a forma que a temporada se tomou. O que se desenhava para ser um ano de rompimento do predomínio bávaro teve uma mudança de rumos e o Dortmund se curvou e, de joelhos, permitiu que o Bayern de Munique levasse a sétima salva de prata consecutiva.
Por que isso aconteceu? São muitas as teorias e variam de acordo com a visão que cada torcedor tem do elenco. Assistindo aos jogos, a que me parece mais válida é a de que, assim como nos últimos anos, novamente faltou repertório. Não gosto muito da tese de que falta “mentalidade vencedora”, que é algo muito subjetivo e implica dizer que o peso dos tropeços recai sobre os jovens e menos experientes do elenco. Talvez até falte um fator X aos mais novos para momentos mais delicados das partidas, mas o erro está em esperar deles essa capacidade de decisão, que é justamente resultado da falta de repertório. Esse fator X faz falta a todo o elenco.
Lucien Favre não conseguiu traduzir as opções que tinha no grupo em soluções para os momentos difíceis das partidas, mesmo na brilhante primeira metade da temporada. Um sistema de jogo excessivamente rígido, sem variações e sem conseguir explorar as possibilidades que jogadores inteligentes como Guerreiro, Reus, Sancho e Götze poderiam acrescentar ao ataque. Favre seguiu uma receita básica, confiável, mas que com uma frequência maior do que gostaríamos se mostrou insuficiente. Para o Dortmund ser campeão faltou um Plano B, um fato novo, e não depender apenas de que os gols saíssem naturalmente graças ao brilho de um ou outro. Um título não se ganha naturalmente, é preciso agarrá-lo. Em especial nesse quesito o Bayern mostrou porque está a frente do BVB.

Não lembro quem disse que uma liga se ganha nos pequenos jogos, e não nos grandes. Segundo essa teoria, pouco importa ganhar ou perder clássicos se o time desperdiçar pontos em partidas menores, e o problema do Borussia Dortmund é que não fez nem um, nem outro. Perdeu pontos em jogos menores e perdeu também em clássicos.
A temporada foi boa ou ruim? Se a meta é estar no topo, então esse deve ser o parâmetro. Não se pode almejar títulos e considerar o vice-campeonato satisfatório – ainda mais em um cenário como no descrito acima. O Dortmund caiu cedo na Pokal, o que é atípico. Na Champions, apesar do estonteante sucesso do Tottenham, que é indicativo da dificuldade enfrentada pelo Borussia, devemos lembrar que o time não foi capaz sequer de impor dificuldades. O problema nesse caso não é a eliminação, que faz parte do jogo, mas a forma com que o time atuou, tanto na ida, quanto na volta.
Considerar qualquer coisa boa ou ruim é algo extremamente pessoal e entendo quem acha que a temporada do Borussia Dortmund não foi tão ruim quanto o retrato feito acima. Não sou, porém, pessimista com base nesses fatos. Acredito que a temporada deixa uma base sólida para o Dortmund moldar o grupo para a próxima jornada e que, com algumas adições, o elenco pode corrigir as falhas cometidas e se tornar melhor. Para o Dortmund, entretanto, precisa ficar claro que não basta aprimorar os acertos, mas principalmente corrigir os erros, que tem sido os mesmos ano após ano.