
Schürrle foi o pior negócio da história do Borussia Dortmund
“Sei por experiência pessoal o poder que o Borussia pode ter através da interação com seus torcedores e espero agora ser capaz de experimentar tudo isso pela primeira vez deste lado”. Essa foi a declaração de André Schürrle quando contratado pelo Borussia Dortmund em 2016. Emprestado pela segunda temporada seguida, desta vez para o Spartak Moscow, pode-se afirmar que nem a interação e muito menos a capacidade de experimentar a camisa aurinegra foram as melhores experiências, tanto para o atacante, quanto para o Dortmund.
Poucos se lembram, mas Schürrle foi contratado pelo Borussia exatamente um dia depois do anúncio do retorno de Mario Götze. O atacante estava no Wolfsburg e foi contratado por 30 milhões de euros, se tornando o reforço mais caro da história do BVB. Boa parte desse dinheiro investido foi oriundo 42 milhões de euros obtidos junto ao Manchester United na transação de Mkhitaryan. Não é loucura dizer que Schürrle só chegou porque o armênio saiu, e na teoria seria o seu substituto. Todavia, isso ficou mesmo só na teoria.
Na época, o Dortmund havia batido o recorde de maior gasto em uma temporada na Alemanha, superando os 88,5 milhões de euros do Bayern de Munique em 2015-2016. Como havia aberto os cofres, decidiu realizar uma loucura declarada e pagar uma quantia absurda em um jogador que estava quase encostado no Wolfsburg. Até o recente retorno de Mats Hummels, Schürrle foi a transação mais alta da história do clube aurinegro.

Ainda que pareça um negócio totalmente sem sentido, as premissas por trás da contratação foram justas. Quando atuava pelo Mainz 05, no começo de sua carreira, Schürrle foi treinado por Thomas Tuchel, treinador do Dortmund na temporada em que foi contratado. Ademais, a diretoria aurinegra acreditou na sintonia que ele, Götze e Reus possuíam atuando na Seleção Alemã. Porém, esqueceram de um detalhe importante: somente Reus (quando não estava lesionado) estava sendo convocado com mais frequência, e o trio, apesar do convívio, não chegou a formar um eixo de protagonismo na Seleção em nenhum momento.
Além dos erros teóricos, a prática também não foi das melhores. Logo nos seus dois primeiros jogos, quando fez um gol e deu duas assistências, a expectativa de engrenar e finalmente recuperar o bom futebol foram colocadas nas alturas. No entanto, veio o maior obstáculo da sua angustiante passagem pelo Dortmund: as lesões.
Para exemplificar, logo na sua primeira temporada, participou de 25 jogos e perdeu outros 23 por lesões. O máximo de jogos que conseguiu completar em sequência foram seis. É claro que não justifica todo o fracasso, mas resume bem a dificuldade que o atleta teve para se firmar. Também é verdade que, na época, o Borussia de Thomas Tuchel vivia uma tremenda crise de problemas físicos, afetado por problemas sérios de gestão do Departamento Médico. Se isso foi responsável direta ou indiretamente pelo desempenho de Schürrle aí é outra história, mas não deixa de ser um agravante.

Dentro de campo, a única memória que fica é seu fatídico gol de empate contra o Real Madrid pela Champions League. Talvez, inclusive, seja a única e mais marcante lembrança da sua apagada passagem pelo Borussia. Contudo, também há uma certa parcela de culpa do próprio clube. Em duas temporadas com diferentes treinadores, o que mais fica claro é que não havia o menor planejamento possível para encaixar o reforço de 30 milhões de euros no time.
Pelo preço pago e o alto salário que até hoje inferniza a diretoria, Schürrle, mesmo quando estava saudável, nunca conseguiu obter uma continuidade no time titular. Não acredito que mudaria muita coisa, visto que suas atuações foram próximas do ridículo. Mas investir pesado em um jogador para realizar pouco mais de 50 jogos — alternando entre titularidade e reserva — em duas temporadas é patético. O Dortmund percebeu a loucura e abriu mão do reforço muito cedo, mas sem antes sequer depositar sobre Schürrle o peso da responsabilidade que deveria ter assumido.
A impressão que fica por parte do Borussia como um todo é a aceitação do erro, mas nunca a tentativa de arranjar alguma alternativa pra consertá-lo. Tanto é verdade que o emprestaram para Fulham e Spartak Moscow, duas equipes com ambições muito diferentes do que é pregado em Dortmund. A semelhança entre os dois casos é a maneira como a diretoria lidou com a situação, deixando Schürrle de lado e, sem querer saber de valores, aceitar a primeira proposta que aparecesse pela frente. O atacante, que nunca foi solução para nada, se tornou na realidade um enorme fardo.

Diferentemente do empréstimo ao Fulham, agora no Spartak Moscow existe uma cláusula de opção de compra estipulada em 7 milhões de euros. Apesar de ser um valor muito menor do qual o Dortmund pagou há três anos, é um voto de esperança para dar um basta na dor de cabeça permanente que se tornou Schürrle no Dortmund.
Com contrato válido até 2021 e um dos maiores salários do elenco aurinegro, é possível cravar que esse foi o pior negócio da história do Borussia Dortmund. Ao todo foram 56 jogos, oito gols, dez assistências, sete lesões que resultaram na perda de 36 jogos, uma Copa da Alemanha e uma decepção sem tamanho, tanto para o clube, quanto para a torcida.
Como quase tudo no Dortmund, o que era ruim pode ficar ainda pior: existe o risco de, ao final de mais um empréstimo, retornar e dar novos capítulos a novela que já virou filme de terror há algum tempo. O lado bom é que, depois disso, faltará somente mais um ano para o desfecho que tende a ser, pela primeira vez, positivo tanto para o clube, quanto para o jogador. No entanto, o desejo precisa ser mútuo e, no momento, o melhor para ambos é seguir em frente e esquecer esse negócio aconteceu.