
Retorno de Hummels pode ser importante, mas não a qualquer custo
Mats Hummels de volta ao Borussia Dortmund? A notícia que ganhou espaço na imprensa alemã no último fim de semana agitou as expectativas dos torcedores aurinegros e bávaros. A possível (provável?) transferência envolve não apenas fatores técnicos e financeiros da Bundesliga, mas principalmente o psicológico dos envolvidos.
São centrais para a negociação entre Dortmund e Hummels três fatores: o dilema moral que envolve toda a trama, os aspectos financeiros da transferência e as mudanças do ponto de vista técnico que um eventual êxito na transferência impactaria sobre Borussia Dortmund e Bayern de Munique. Em resumo, a teoria que temos é de que tudo pode ser resumido em uma pergunta: vale a dor de cabeça?
O dilema moral é a parte mais delicada do processo que pode culminar no retorno do ora capitão ao clube que o lançou para o futebol mundial. Que a saída de Hummels do Borussia foi conturbada muitos se recordam, mas poucos talvez se lembrem de todos os elementos que levaram o zagueiro até Munique. Basicamente todos os motivos possíveis extra-campo foram trazidos à tona, desde o conforto da sua família, até a carreira de sua esposa, Cathy Hummels. Esportivamente, o experiente zagueiro alemão fez parecer que trocar o Borussia pelo Bayern seria um mero detalhe, e a impressão deixada é que o desprezo pela delicadeza do momento ateou gasolina na fogueira do ódio do torcedor aurinegro.

Surpreendentemente, três anos depois da venda, uma possível reviravolta. De acordo com o Ruhrnachrichten, foi ele quem iniciou as tratativas para retornar ao Dortmund, pedindo ao clube que fizesse o possível para chegar a um acordo com o Bayern e concretizar o seu desejo. Em entrevista concedida no ano de 2014, às vésperas da Copa do Mundo, Mats afirmou que “preferia ganhar um título sendo um jogador importante do que ganhar vários títulos sendo um jogador comum”, e essa declaração pode ser a chave para entender sua vontade de regressar.
Pode ser comum ao torcedor identificar arrependimento ou desfaçatez na vontade do zagueiro, o que pode não estar errado, afinal nunca sabemos as reais motivações de alguém, mas acho que é uma visão inocente e superficial das coisas. Analisando a ordem dos acontecimentos e o momento em que as peças são colocadas no tabuleiro, uma palavra me soa altamente adequada a situação de Hummels: frustração.
Reeditar a dupla de zaga ideal alemã com Boateng foi uma motivação forte para Hummels, que trocou um sistema defensivo caótico de Dortmund por uma defesa de Seleção Alemã em Munique. Todavia, o defensor em nenhum momento exerceu protagonismo similar ao dos tempos em que vestia as cores do Borussia Dortmund. Hummels foi campeão, atuou em um nível técnico elevado e pode considerar sua passagem pelo Bayern como vitoriosa, mas foi coadjuvante nas conquistas do clube. Me parece claro que ele sente falta do que poderia ter sido em Dortmund e do que não conseguiu se tornar em Munique, e que tenta recuperar o papel principal enquanto ainda há tempo.

Assim entramos no segundo fator da transferência: critério técnico. Deixando de lado o rancor e a má vontade em relação ao tempo do zagueiro no Bayern, deve ser indisputável o fato de que, dentro de campo, está próximo do que há de melhor na faixa etária dos 30 anos. Se o Dortmund busca um zagueiro experiente e capaz de conduzir os jovens defensores do elenco nos próximos dois, três anos de liga, Hummels é um candidato ideal.
Pode ser discutida a forma recente do zagueiro, mesmo porque os parâmetros do Bayern de Munique são altos, mas negar que ele é competente o bastante para elevar o patamar da defesa aurinegra é fechar os olhos para a verdade. É possível não gostar do reforço, odiar a pessoa e se recusar a aceitar sua volta de braços abertos, mas é difícil argumentar contra sua capacidade de acrescentar equilíbrio à débil defesa do Borussia Dortmund. E pelo mesmo motivo o Bayern de Munique não deve facilitar sua saída; afinal, apesar das chegadas de novos jovens reforços nesta janela, é preciso salientar que ele terminou a última temporada como titular da defesa bávara.
Por fim, o fator mais incerto na equação: dinheiro. Não se sabe ao certo qual é a avaliação do Bayern de Munique em relação a uma eventual venda de Mats Hummels. Os valores divulgados são suposições que vão de 15 a 30 milhões de euros, porém tudo vai depender dos planos que a diretoria do Bayern traçar para o zagueiro. Isso porque o salário, algo entre 12 e 13 milhões de euros, seria reduzido para cerca de 10 milhões por temporada, algo que ele aparentemente está disposto a ceder.

Em meio a todo drama dos rumores e a interessante novela que as notícias são capazes de construir, aqui o que acredito ser a realidade: Hummels quer sair e consultou os planos do técnico Nico Kovac, que não se opôs a venda. Assim, pediu para o Dortmund tentar contratá-lo, que, por sua vez, deve ter indicado que faria o possível. O Bayern de Munique, não sabendo do OK inicial de Kovac, ficou em uma situação desconfortável, mas com todo o poder de barganha. Sob contrato, o zagueiro alemão está atado ao Bayern, que terá que ceder aos encantos financeiros do Borussia Dortmund, que não são muitos: o BVB não é um dos mais bonitos da pista, mas tem seu charme.
Repatriar Hummels é uma decisão que a diretoria do Borussia Dortmund precisa tomar de consciência limpa. Isso porque acredito que são duas as perspectivas: pelo lado esportivo, um reforço que se soma a Julian Brandt, recolocando o Dortmund na trilha dos grandes europeus; pelo lado pessoal, um caso de perdão mútuo e reconhecimento de erros no processo, que até foram dele, mas não exclusivos ao zagueiro — nenhum clube perde seu capitão isento de falhas. Acima de tudo, julgo que é um momento onde egos devem ser deixados de lado em prol da consolidação de um projeto que, sem qualquer sombra de dúvida, ganharia muito com a chegada de Hummels.
Não acredito que seja uma negociação fácil, muito menos rápida, mas também não classifico como improvável. É de amplo conhecimento que vontade do jogador importa e, na grande maioria dos casos, prevalece. Mais do que entender como Hummels será recebido em Dortmund, o importante é saber em que condições pode se dar esse retorno, porque esse é um negócio interessante, mas que não vale qualquer esforço. O Dortmund vendeu a alma quando perdeu o capitão, só não pode perder a dignidade tentando trazê-lo de volta.