
Personagens: Stéphane Chapuisat
Gols e lesões são rotina comum para muitos atletas. A batalha constante contra problemas físicos nos momentos mais inoportunos costuma marcar a carreira de diversos jogadores e determinante para o sucesso ou fracasso da jornada de indivíduos com enorme potencial. No caso de Stéphane Chapuisat, o talento se provou muito maior do que as dificuldades enfrentadas fora das quatro linhas.
Para entender por inteiro a grandeza de Stéphane, precisamos primeiro dar meia volta na história e apresentar Pierre-Albert Chapuisat, pai do ex-atacante. O futebol corre nas veias da família, que entre pai e filho contabiliza quatro décadas de sucesso no futebol suíço. Gabet, como era conhecido durante a carreira profissional, foi um defensor com três passagens de sucesso pelo Lausanne, clube da sua cidade natal, e posteriormente treinador de times de médio e pequeno porte da Suíça.
Dentre os diversos embates protagonizados por Gabet, um em especial foi determinante para os rumos da família Chapuisat. Em uma sexta-feira, dia 13, setembro de 1985, uma violenta entrada de Gabet rompeu os ligamentos do joelho de Lucien Favre, à época meio-campista do Servette. O defensor não foi expulso, mas imagens da televisão comprovaram os excessos do atleta – a reação fez com que Paul Rinsosz, presidente do clube, rescindisse o contrato de Pierre-Albert Chapuisat, que então optou pela aposentadoria dos gramados.

Stéphane nunca escondeu a influência de Gabet em sua ascensão enquanto prospecto do futebol suíço. Assim como diversos outros casos de pais e filhos no esporte, o sobrenome fez com que Chappi iniciasse sua carreira no futebol profissional cercado de holofotes e expectativas. Todavia, temperamento afiado de Pierre-Albert contrasta com a sutileza de Stéphane em campo. Aos 18 anos o jovem atacante consolidou sua titularidade como ponta-esquerda do Lausanne e não tardou a conseguir uma convocação para a Seleção Suíça sub-21. Chapuisat terminou a temporada 1989-1990 com 11 gols marcados e a impressionante segunda colocação da liga, atrás apenas do Grasshoppers – conquista acima de qualquer expectativa do Lausanne.
Na temporada seguinte foram 13 gols marcados em apenas seis meses e uma lua de mel com o clube suíço que se encerrou na pausa de inverno. Com propostas de Nottingham Forest, da Inglaterra, e Bayer Uerdigen, o atacante decidiu que o futebol alemão deveria ser seu destino. Mais uma vez, porém, o pai de Chapuisat não conseguiu ficar alheio às polêmicas. Pierre-Albert foi acusado pelo então treinador do Lausanne, Umberto Barberis, de provocar a transferência a contragosto do filho. Segundo Barberis, Stéphane tinha concordado e ficar no futebol suíço até o fim da temporada, mas a ganância de Gabet fez com que o atacante tomasse novos rumos.
No Uerdigen foi um dos primeiros negócios concretizados por Felix Magath como diretor de futebol – Magath, que agora conhecemos como técnico, acabara de pendurar as chuteiras e ainda descobria sua vocação fora das quatro linhas. O destino, entretanto, testou a sorte de Chapuisat: na primeira semana no clube alemão, sofreu grave lesão no joelho durante um treinamento e só foi capaz de estrear três meses depois, em abril, a poucas rodadas do fim da temporada – ainda assim, o atacante marcou 7 gols em cerca de um mês e meio.

O desempenho chamou a atenção do Borussia Dortmund, que não viu problema na pequena amostra e o pouco tempo em campo pelo Uerdigen e fez uma aposta que viria a ser um dos grandes negócios do clube na década de 90. Chapuisat reforçou o ataque aurinegro em 1991-1992, dividindo espaço com Frank Mill e Flemming Povlsen. Com 20 gols marcados em 37 partidas no primeiro ano sob o comando de Ottmar Hitzfeld, Chappi caiu rapidamente no gosto do torcedor do Borussia.
Ao todo, Stéphane Chapuisat completou oito anos no Borussia Dortmund, convivendo com lesões delicadas, mas se sobressaindo nos momentos decisivos. Nos melhores anos do clube na década de 1990, o canhoto da camisa 9 acumulou gols, idolatria e títulos. Em oito temporadas no clube aurinegro, conquistou duas vezes a Bundesliga (1994-1995 e 1995-1996), duas Supercopas (1995 e 1996), a única Champions League da história do clube (1996-1997) e uma Copa Intercontinental (1997). Com 106 gols marcados em 228 partidas na Bundesliga, Stéphane se tornou ainda o primeiro estrangeiro na história a superar a marca de 100 gols marcados no Campeonato Alemão.
Depois de uma temporada de queda em 1998-1999, voltou ao futebol suíço para defender o Grasshoppers. Chappi ficou três temporadas no clube de Zurique, depois se transferiu para o Young Boys de Berna, onde permaneceu por mais três anos, até retornar ao Lausanne – clube onde iniciou a carreira – para uma temporada de despedida, se aposentando aos 37 anos. No retorno ao seu país natal, conseguiu se sagrar artilheiro da liga por duas vezes e campeão nacional em 2001, com o Grasshoppers.

Pela Seleção Suíça, Chapuisat foi importante para o time comandado pelo inglês Roy Hodgson que se classificou à Copa do Mundo de 1994, quebrando um jejum de 26 anos sem qualificação para torneios de expressão. Os Rossocrociati chegaram a ocupar a terceira posição no Ranking da FIFA na década de 90, com o atacante se juntando a Alexander Frei e Hakan Yakin em um setor ofensivo que marcou a Europa na virada do milênio. Chapuisat celebrou sua centésima aparição pelo selecionado suíço em 2004, contra a Alemanha, e se aposentou três partidas depois, contra a Inglaterra, com 103 partidas disputadas e 21 gols anotados.
Desde a aposentadoria, em 2006, Chapuisat tem exercido o papel de embaixador da Federação Suíça para causas sociais e eventos promovidos pela UEFA. O ex-atacante trabalha desde 2008 no Young Boys, onde ingressou como membro da comissão técnica e migrou para o time de olheiros. Desde 2010 é olheiro chefe do clube, que nesta década tem sido responsável por exportar ótimos talentos para a Bundesliga, como Denis Zakaria (Mönchengladbach), Yvon Mvogo (RB Leipzig), Kasim Adams (Hoffenheim) e Kevin Mbabu (Wolfsburg). Chappi conta ainda com uma curta passagem pela comissão técnica da Seleção Suíça, onde ficou por apenas um ano.
Mesmo não sendo um atleta de muita velocidade, o controle de bola o permitia driblar com facilidade e conduzir ataques mesmo cercado por dois, três ou quatro defensores. Reduzir Chapuisat a um definidor de jogadas é um erro comum por parte de grande maioria dos perfis sobre o atleta, mas essa é uma marca que se acentuou apenas na reta final de sua carreira. A liderança técnica e tática exercida por onde passou foram grandes responsáveis pela consolidação do jogador como ícone do lado esquerdo do ataque. E mesmo que as lesões tenham tentado, não foram o suficiente para deter a ascensão do Chapuisat, que até hoje é considerado o maior atacante da história da Suíça.