
Perfil: Thomas Meunier
O primeiro reforço do Borussia Dortmund para a temporada 2020-2021 tem grife, foi alvo de uma disputa acirrada e chega sem custo para os cofres do clube: Thomas Meunier. O belga de 28 anos deixa o Paris Saint-Germain após quatro temporadas e depois de recusar ofertas da Premier League para se juntar aos compatriotas e companheiros de Seleção Belga, Axel Witsel e Thorgan Hazard no clube alemão. Mais próximo de casa e com velhos conhecidos por perto, Meunier aparenta buscar segurança e competitividade neste novo desafio da carreira.
O contrato assinado por Meunier com o Dortmund é válido até junho de 2024 e pode ser considerado um reforço de baixo risco, pois chega sem custos e com baixo custo-benefício. Inclusive, aparenta ser mais uma cartada certeira de Michael Zorc e Matthias Sammer, que seguem em busca de reforços de maior expressão nesta inglória missão de tentar elevar o patamar do Borussia Dortmund.
A carreira de Meunier começou na base dos pequenos RUS Sainte-Ode e RUS-Givry, por onde passou 8 anos entre infância e adolescência até ingressar na base do tradicional Standard Liège. Após dois anos na base do Standard, a carreira de Meunier quase encontrou um final precoce: o jovem foi dispensado pelo clube e por algum tempo desistiu de atuar profissionalmente. A desistência durou apenas algumas semanas, pois a mãe do belga procurou um dos treinadores do Virton e os persuadiu a oferecerem uma oportunidade para Thomas Meunier.

Em seu amistoso de observação, participou de 10 dos 15 gols da vitória do time por 15 a 3 sobre o adversário. Depois disso foram três anos no Virton, enquanto se dividia entre futebol e um segundo emprego, primeiro como carteiro, depois na fábrica da multinacional automobilística Saint-Gobain. Atuando no ataque, não demorou muito para que o atleta ganhasse certo reconhecimento na Bélgica, ficando conhecido como “aquele cara da 3ª divisão que marca muitos gols de toda maneira”. O Club Brugge estava atento e abriu as portas para Meunier em 2011, após vencer a disputa de outros times da elite belga pelo jogador ofensivo.
Thomas Meunier foi sendo recuado no decorrer dos anos, passando de segundo atacante para ponta-direita, depois meio-campista, ala-direito, até se tornar um lateral-direito – sem perder a vocação ofensiva. Ao todo, foram cinco temporadas com as cores do Brugge, clube com o qual conquistou uma vez a Copa da Bélgica e uma Pro League (o Campeonato Belga). O bom desempenho abriu caminho também para convocações para a Seleção Belga. Apesar de não ter conseguido espaço no elenco a tempo de uma convocação para a Copa do Mundo do Brasil, assumiu a titularidade ainda no final de 2014. Meunier foi titular na campanha histórica do país em 2018, a melhor da Bélgica em Copas do Mundo, e marcou um dos gols da vitória que deu ao time o terceiro lugar no torneio.
Porém vamos voltar duas temporadas, para 2016, quando foi contratado pelo Paris Saint-Germain. Pouco tempo antes, Thomas Meunier quase acertou com o Wolfsburg, mas optou por ficar no Brugge à espera de uma proposta de uma equipe de maior porte. No clube parisiense teria forte disputa pela posição, mas estaria no centro dos holofotes e em uma liga mais forte do que a belga.

Entre lesões e algumas polêmicas com a torcida do PSG, Meunier atravessou um bom momento no futebol francês. Ao longo de sua estadia no clube, viu passarem pelo clube o neerlandês Gregory Van der Wiel, o marfinense Serge Aurier e até Daniel Alves, mas sempre se manteve na briga por um lugar no onze inicial, enquanto os concorrentes foram partindo aos poucos. Pelo PSG, o belga soma 128 partidas, 13 gols marcados e participou de nove títulos em quatro temporadas.
A temporada 2019-2020 de Meunier foi decepcionante. O lateral não apenas perdeu espaço no PSG de Tuchel, como também perdeu importância nas vezes em que foi titular, performando abaixo do nível das temporadas anteriores – e e esse é um dos principais motivos da opção pela não renovação de contrato. Isso não significa, do nosso ponto de vista, que não pode ser mais um jogador atrativo e útil, mas simplesmente que seu ciclo em Paris atingiu o limite.
Meunier é um reforço interessante para o Borussia Dortmund pois reflete a aplicação de uma fórmula que tem dado certo nas últimas janelas de transferências. Ciente de que precisa equilibrar o seu elenco com jogadores mais experientes, o clube foi atrás de atletas como Axel Witsel e Mats Hummels, que de forma incontestável elevaram o patamar dos seus setores. Não acreditamos que Meunier esteja no patamar da dupla, mas tem o mesmo perfil e pode ser importante para o crescimento de outros jogadores. Como descrito acima, conta com um histórico de relevância com as camisas de Brugge, PSG e Seleção Belga, e mesmo que não chegue ao Dortmund no seu auge técnico, certamente ainda tem algo de bom para oferecer ao clube aurinegro.

O belga aterrissa em Dortmund em um intervalo de tempo que é intrigante para o lado direito do Borussia. Enquanto Lukasz Piszczek vê seu reinado chegar ao fim e se prepara para a aposentadoria atuando na defesa, o Dortmund conviveu com a irregularidade de Achraf Hakimi por duas temporadas – por vezes comprometeu, mas também soube ser essencial. Além disso, existe um potencial imenso em Mateu Morey, lateral que veio sem custo da base do Barcelona e sofreu com uma lesão no ombro no início da temporada 2019-2020, o que o deixou muito atrás da concorrência para o restante do campeonato. Prestes a completar 29 anos no início da próxima temporada, Meunier tem experiência o suficiente para preencher uma lacuna importante no elenco, inclusive podendo suceder Piszczek no quesito liderança daqui alguns anos, mas também tem nível e ritmo suficientes para lutar pela titularidade, sem sufocar a concorrência.
Quando pensamos no encaixe do jogador, fica evidente que o Dortmund planeja (ou pelo menos cogita) que a defesa com três jogadores permaneça por mais algum tempo. A fórmula deu certo durante a temporada e permitiu que os alas se tornassem protagonistas – e é assim que Thomas Meunier pode render o seu melhor na Alemanha. Com características ofensivas e habituado a atuar com liberdade pelo lado direito, possui mais consistência do que Hakimi e também melhor desempenho defensivo, atuando com maior imposição física e também mais inteligência do que o marroquino. Na nossa visão, não se trata de um jogador extremamente técnico ou exemplar em alguma característica específica, mas alguém que no conjunto da obra é acima da média, um pacote completo para atuar com regularidade em uma liga competitiva como a alemã.
Projetar desempenho é uma tarefa muito difícil, principalmente no caso de novos reforços. O que se pode afirmar com certeza é se o reforço faz sentido ou não do ponto de vista de planejamento, tático e técnico, e Meunier é uma contratação que faz muito sentido. É um atleta que passou do auge – 2018, o que deve ser consenso entre todos que acompanham o belga – sem cair muito de rendimento e também sem sofrer com tantos problemas físicos. Na prática a teoria vai pelos ares, mas pelo menos no papel é seguro dizer que o Dortmund cumpre o dever de casa ao mirar em Meunier, que é um lateral completo e necessário para um time que costuma ficar devendo nos cenários mais delicados.