
Perfil: Giovanni Reyna
A Alemanha se tornou o destino preferido de jovens norte-americanos em busca de desenvolverem suas carreiras profissionais, muito por conta de ser uma liga europeia que dá espaço suficiente para que jovens talentos se desenvolvam. Na última temporada, Weston McKennie, Josh Sargent e o recém-negociado Christian Pulisic encabeçaram a vasta lista de estadunidenses na Bundesliga.
Aos 16 anos, Giovanni Reyna, filho do diretor esportivo do New York City e ex-craque norte-americano Claudio Reyna, se juntará a equipe U19 do Borussia Dortmund nesta janela de transferências. Curiosamente, a carreira internacional de seu pai também começou no país germânico, quando foi contratado pelo Bayer Leverkusen em 1994. O jovem chega na Alemanha buscando imitar o sucesso do compatriota Pulisic, que também se juntou a Dortmund muito novo em 2015. Gio tem cidadania europeia devido aos laços de sua avó paterna com Portugal, o que lhe permitiu que não tivesse que esperar até seu 18º aniversário para se mudar em definitivo para a Europa.
Nascido na Escócia durante a passagem do seu pai pelo Rangers, Reyna é considerado um dos melhores jogadores da geração norte-americana de jovens jogadores. Constantemente convocado para a seleção sub-15 e agora sub-17 dos Estados Unidos, liderou a equipe sub-18/sub-19 do New York City no campeonato da US Development Academy (a liga com nível mais alto do futebol juvenil nos EUA) e conquistou a Copa Generation Adidas em 2017, onde foi considerado o melhor jogador do torneio.
Apesar de algumas conversas terem acontecido no início do ano passado para que o jovem integrasse o elenco profissional do time de Nova Iorque, todos os caminhos o levavam a uma transferência para a Europa. Ainda que o nível da MLS tenha evoluído muito nos últimos anos, ainda não atingiu o mesmo patamar dos principais centros europeus de futebol. Ainda assim, pode-se ter uma dimensão do talento de Gio Reyna ao consideramos que foi cogitada sua promoção para a equipe principal do NYCFC quando ainda tinha apenas 15 anos.
Drama familiar
Além da vida profissional do pai e o início precoce nas academias de futebol, Reyna teve que conviver com uma grande perda logo aos 9 anos: em julho de 2012, seu irmão mais velho, Jack, morreu com 13 anos por conta de um tumor cerebral. Na noite em que seu irmão morreu, sua mãe revelou seu desabafo: “Nunca vou ser um bom jogador de futebol agora, porque meu irmão mais velho me ensinou tudo”. A perda do irmão virou motivação para Giovanni.

No dia 8 de abril de 2016, um dia antes do aniversário de 17 anos de Jack, Gio, então com 13 anos, estava jogando contra o Uruguai em sua primeira aparição internacional pela seleção americana sub-15. O jogo foi em Rosário, na Argentina – curiosamente o país natal de seu pai. Todos esses ingredientes acarretaram uma performance memorável do jogador. E não deu outra: um gol, uma assistência e uma partida dedicada — mesmo que indiretamente — ao seu falecido irmão.
De acordo com seu pai, em entrevista à Sports Illustrated, é difícil explicar o que se passou naquele dia. “É difícil para nós. Nós trazemos Jack para Gio. Nós falamos sobre Jack o tempo todo, mas não queremos empurrá-lo sobre ele. Às vezes dizemos: ‘Seu irmão está com você’. E naquele dia (no jogo em Rosário) não havia dúvidas. O dia seguinte foi a data de aniversário de Jack. O jogo todo do Gio foi absurdo, extremamente incrível”, disse Claudio.
Encaixe tático
Mesmo muito jovem, Gio mostra qualidade em diversas posições no último terço do campo. Meia-armador central por naturalidade, também pode jogar como um falso 9 ou um centroavante de mais movimentação, caindo pelos lados e buscando o jogo mais recuado. Por mais que ainda não tenha atuado muito nas extremidades do campo, também poderá ser treinado naquela área futuramente, pois possui todas as características necessárias para ser um bom winger.
Reyna, apesar de ser um meia clássico, rende mais quando atua mais próximo do gol, entrando na área. E foi assim que atuou na Copa Generation Adidas há dois anos, jogando propriamente como um segundo atacante e com mais liberdade para se movimentar nas entrelinhas defensivas do adversário. Seu primeiro toque é altamente refinado, fazendo com que dificilmente erre algum passe de primeira ou até mesmo de costas para o gol — onde consegue atuar devido ao seu 1,82m de altura e capacidade de se posicionar bem no ataque.
Com muita consciência da movimentação de seus companheiros de time, tem como principal característica o passe agudo-vertical que geralmente quebra as linhas da defesa adversária. Sem ser muito veloz, seu controle de bola o capacita para atuar nos lados do campo, utilizando sua habilidade como virtude para dar profundidade ao ataque. Quando possui a bola, ele dificilmente diminui seu ritmo quando está em progressão ao gol, fazendo com que mantenha uma constância muito alta e faça parecer que ele é veloz (algo que não é).
Dono de uma exímia visão de jogo, o grande lado positivo de quando atua mais centralizado — quase como um trequartista — é a maneira como consegue criar jogadas em pequenos espaços e dar longos lançamentos nos vazios defensivos. Dificilmente ele utiliza passes verticais, e isso faz com que force algumas jogadas desnecessárias durante um jogo. Contudo, por ser muito completo e ter muita qualidade no passe, pode ser considerado um jogador extremamente imprevisível ofensivamente.
“Para uma criança, ele possui presença física e uma compreensão de jogo realmente boa. Pode marcar gols, e ainda entender as demandas do jogo taticamente. É um garoto muito inteligente e mostrou algumas coisas realmente boas”, disse Patrick Vieira, ex-técnico das categorias de base do NYCFC.
Ainda que seja mais um criador de jogadas do que um finalizador, Gio também tem um bom poder de fogo, seja de média ou longa distância. Segundo o site do US Soccer, ele marcou 15 gols em 22 aparições durante a temporada 2017-2018. Alinhando a finalização aos dribles curtos em pequenos espaços, é um perigo para a defesa adversária quando está próximo ao gol. Assim, é mais coerente que ele seja desenvolvido em uma função que contribua mais ofensivamente do que defensivamente.
Refém do pé-direito, tem como uma de suas especialidades a bola parada. Técnico e com qualidade suficiente para colocar a bola aonde quiser, ele também realiza cruzamentos eficientes. Se treinado como propriamente um winger, poderá aprimorar mais ainda esse atributo, visto que é necessário — na posição — dar profundidade aos ataques com dribles e velocidade, algo que ele deverá melhorar da mesma forma. “Ele é muito mais um atleta do que eu, muito mais um goleador”, disse seu pai. “Ele é muito técnico e tem uma boa noção do jogo. Ele tem um ótimo chute livre e pode acertar uma bola bem. Danielle (mãe dele) era uma ótima corredora – e ele é um corredor”.
“Acredito 100% no que estamos fazendo em NYCFC”, disse Claudio, “mas tenho que tirar meu chapéu como diretor esportivo para ele”.
De qualquer maneira, Giovanni Reyna já é um jogador versátil que poderá se desenvolver muito na boa academia de jovens do Borussia Dortmund. Antes de pensar em chegar ao profissional, ele precisará desenvolver algumas questões defensivas necessárias para atuar em uma grande liga europeia, já que tem sérias dificuldades em retornar para marcar ou simplesmente somente pressionar o adversário. Mas isso é e sempre foi algo natural dos jovens que jogam em ligas que exigem menos esforço defensivo.
Conclusão
Existem muitos obstáculos a serem superados: perda familiar, idioma, clima, clube e ideais diferentes. Algo natural para um jovem jogador que se transfere antes dos 18 anos, mas não parece que será um grande problema para ele. Capitão da seleção americana sub-17 e também do sub-18/sub-19 do New York City, mentalidade e personalidade não faltam para o americano de 16 anos.
“O pensamento dele saindo aos 16 anos é muito triste”, disse sua mãe à Sports Illustrated. “Tenho certeza que tem algo a ver com Jack também, no sentido de que confiei nele (Gio) como o grande garoto. Choro um pouco só de pensar nisso.”
Quando perguntado sobre como é crescer em uma casa com uma lenda da seleção dos EUA, Giovanni disse ao MLSsoccer.com em abril de 2017: “Eu o vejo como meu pai”, demonstrando personalidade e vontade de deixar pra trás a pressão de carregar um dos principais sobrenomes do futebol estado-unidense. Queira ou não, dificilmente ele deixará de ser comparado ao sucesso do pai. Resta saber se irá fazer jus a genética.