
Perfil: Emre Can
O Borussia Dortmund confirmou a contratação de seu segundo reforço desta janela de transferências de inverno. Com passagens por Bayern de Munique, Bayer Leverkusen, Liverpool, Juventus e Seleção Alemã, Emre Can se converte no oitavo reforço do clube aurinegro na temporada. O jogador chega para ter um dos salários mais altos do elenco, cerca de 8.5 milhões de euros brutos por temporada – metade do que recebia na Juve – e assina contrato válido até 2024.
Insatisfeito na Itália e de olho na Eurocopa, Can seguiu orientações do técnico Joachim Löw para traçar seu retorno ao futebol alemão. Apesar do interesse de clubes da Premier League, como Everton e Tottenham, o versátil defensor-meio-campista aceitou uma brusca redução salarial para voltar para a Bundesliga. De acordo com as diferentes informações publicadas a respeito do negócio, Can chega por empréstimo de seis meses com obrigação de compra fixada em 25 milhões, além de bônus por metas.
Emre Can é um reforço que chega ao Borussia Dortmund dividindo opiniões de torcedores. Enquanto alguns se recusam a crer que valha todo o valor investido, outros acreditam que é uma contratação de peso e necessária para atender as ambições do clube. O veredito do blog é que a situação não fica nem lá, nem cá: Can é capaz de contribuir muito e elevar o nível da equipe, mas, apesar de necessário, é caro e alheio a política de investimentos do Borussia, e um dos primeiros frutos da influência de Matthias Sammer, que começa a abrir suas asas sobre a dinâmica Zorc-Watzke.

Nascido em Frankfurt, Can se mudou para a Baviera aos 15 anos para atuar na base do Bayern de Munique. Pouco tempo depois já atuava pelo Bayern de Munique II e seleções de base da Alemanha, tratado como um talento geracional, precedido do ânimo com o sucesso de Schweinsteiger. Mesmo não sendo considerado um sucessor propriamente dito, ou mesmo não tendo as mesmas características do meia, parecia certo que seria o próximo meia explosivo a surgir no futebol alemão. A concorrência impediu que Can se firmasse no Bayern e logo o jogador se transferiu para o Bayer Leverkusen.
A mudança deu certo para os planos do jogador para a carreira: Emre conseguiu mais tempo de jogo, entrou em campo 39 vezes, e mesmo atuando majoritariamente como volante defensivo terminou a época 2013-2014 com quatro gols e quatro assistências. Apesar de possuir cláusula de recompra, o Bayern de Munique optou por não exercê-la, mas os baixos 12 milhões de euros fixados em contrato chamaram a atenção do Liverpool, que não hesitou em levar o versátil meia, então com 20 anos, para a Premier League.
Na Inglaterra a vida de Can definitivamente não foi fácil. O meia enfrentou um período de instabilidade do Liverpool pré-Jürgen Klopp. Com Brendan Rodgers, foi muito utilizado na defesa, mas rodou mais do que o saudável para um jogador em busca de afirmação profissional. A chegada de Klopp mudou a sorte de Can, que retornou ao meio-campo, passou a ser convocado com frequência para a Seleção Alemã. Tudo ia bem até que lesões e atuações ruins puseram fim ao casamento do jogador com os Reds. Sem renovar o contrato, trocou Liverpool por Turim, assinando sem custo com a Juventus para a temporada 2018-2019.

Entre altos e baixos, Emre Can teve uma primeira temporada regular pela Vecchia Signora. O melhor momento no clube italiano foi no início do ano passando, quando o treinador Maximiliano Allegri o utilizou como um híbrido de volante com zagueiro pela direita. Na função foi responsável por fazer a cobertura de João Cancelo, ala de atributos ofensivos, e Miralem Pjanić, organizador de jogo do time. Assim, mais distante do gol, viu sua boa leitura de espaços e força física serem evidenciados – e é isso que devemos esperar de Can no Dortmund.
O fim de Can pela Juventus foi litigioso. Deixado de lado pelo novo técnico Maurizio Sarri, sequer foi inscrito na Champions League no início desta temporada. No banco de reservas durante a maioria das partidas da Serie A e Copa, foi titular apenas duas vezes e entrou no decorrer dos jogos em mais seis jogos. Com o novo técnico, Can não chegou a atuar nenhuma vez por 90 minutos e isso pesou na decisão de deixar a Itália. Para fazer caixa e devido ao alto salário do alemão, a Juventus decidiu ceder ao pedido do atleta e negociá-lo nesta metade de temporada.
Durante quase uma década de carreira no futebol profissional, o alemão fez de tudo um pouco entre defesa e meio-campo. Poucos sabem, mas o início de jornada na academia do Bayern de Munique foi como zagueiro central. Tendo surgido como meia ofensivo, foi sendo recuado aos poucos, e após idas e vindas se consolidou como um volante nos primeiros momentos de carreira. A função exercida na defesa da Juventus, todavia, deve ser observada com atenção, porque deve ser a mesma a ser feita no Borussia Dortmund.

Muito tem se falado sobre o suposto tiro no pé da venda de Julian Weigl para a contratação de Emre Can. Discordo imensamente. Sem sequer levar em consideração a vontade de Weigl e analisando apenas critérios técnicos, são dois atletas esportivamente opostos. Enquanto o Dortmund procurava força, Julian oferecia técnica. Apesar da ilusão de serem dois meio-campistas capazes de atuar na zaga, qualquer similaridade se encerra por aí. Os dois possuem qualidades distintas, mentalidades e experiências muito diferentes, e Can tem muito mais a ver com o que o Dortmund busca do que o seu antecessor.
Can chega ao Borussia Dortmund como potencial titular da defesa a três, ao lado de Hummels e Zagadou. Assim como fizera na Juve, cobrindo Cancelo e Pjanic, deve oferecer suporte aos avanços indomáveis de Achraf Hakimi e diminuir a sobrecarga de Witsel, em especial com a consolidação de Brandt como meia-central – que contribui muito ofensivamente, mas defensivamente não é dos mais rigorosos. Em resumo, o reforço visa acrescentar equilíbrio a um time que aos poucos encontra sua forma de melhor aproveitar os talentos que tem, e Can é uma peça escolhida a dedo para essa tarefa.
Emre Can não é o jogador com mais brilho, nem mesmo um reforço que figurava na lista de desejos dos torcedores, mesmo assim é de uma injustiça brutal e equivocada tratá-lo como uma contratação ruim. Não se pode lutar contra os fatos: Can é um atleta de Seleção Alemã, capaz de atuar em diferentes setores do campo e que abre mão de altas cifras para fazer parte do elenco aurinegro. Essa é uma contratação para ser celebrada. Sem ‘mas’ e sem ressalvas: é um bom reforço. Dentro de suas capacidades não deve demorar muito para encontrar seu posto titular e ser uma das peças-chave do Borussia Dortmund de agora em diante.