
Novo contrato de Götze é uma questão de planejamento e bom senso
O contrato de Mario Götze com o Borussia Dortmund se encerra em junho de 2020 e, ao que tudo indica, não deve ser renovado tão cedo. Isso porque Hans-Joachim Watzke exige que o meia (atacante?) aceite uma redução salarial para efetivação de um novo vínculo com o clube. O pedido virou entrave e o futuro de Götze agora é incerto.
Em recente entrevista à Kicker, Aki Watzke afirmou que o Dortmund não tem a intenção de vender Mario Götze. A declaração, porém, não é nenhum mandamento inquebrável, e sequer serve de garantia. Afirmar que o clube não tem a intenção de vender o jogador não significa que ele não possa ser vendido. Na minha avaliação pessoal, tudo vai depender das circunstâncias da renovação nas próximas semanas.
Via de regra, sempre enxergo com maus olhos a manutenção de um jogador no elenco após uma recusa de renovação. O caso de Götze, por sua vez, não é propriamente uma recusa, mas se a versão da diretoria for verídica – o que realmente acredito que seja – o Borussia Dortmund está no rumo certo.
Mario Götze atualmente recebe o segundo mais salário do elenco, pouco mais de 10 milhões de euros por temporada entre valores fixos e bônus variáveis. Quando retornou do Bayern de Munique e recebeu a camisa 10, a expectativa era de que adquirisse uma importância para o time titular que nunca se concretizou. Na temporada 2018-2019, o meia participou de 34 partidas, apenas 18 como titular e ficando 90 minutos em campo em apenas 10 jogos. Isso é pouco.

Os números do jogador foram positivos, com 7 gols, 7 assistências, envolvido em menos gols apenas do que Marco Reus, Jadon Sancho e Paco Alcácer, entretanto, o alto salário deve ser colocado em perspectiva, como está sendo feito pela diretoria. Não devem existir dúvidas a respeito da capacidade de Mario agregar ao time em campo e ser uma arma poderosa para o elenco, mas o que o qualifica a possuir o segundo maior salário do elenco? A verdade é que Götze atualmente não vale tudo isso.
É fato que para repor um jogador com a capacidade técnica de Götze o Borussia Dortmund teria que investir altas cifras. Porém, uma informação crucial para que possamos determinar se o melhor para clube e jogador é a renovação ou uma transferência são os planos de Lucien Favre. Com base na última temporada e as afirmações do técnico e diretoria à imprensa, Götze é considerado uma opção para o comando de ataque, e não para o meio-campo. Nesse caso enxergo a venda do atleta com bons olhos.
Mario dá opções interessantes ao time quando centralizado no ataque, mas não é um atacante. Não questiono a questão de atacante de ofício, nove clássico, ou de movimentação, mas o fato de que Götze é um meio-campista de origem que pode, eventualmente, em determinadas ocasiões, apenas quando necessário, fazer as vezes de centroavante. Se, para efeitos de formação de elenco, o clube considera o camisa 10 atacante, temos um erro crasso de planejamento que pode ser corrigido por linhas tortas. O segundo maior salário do elenco não pode ser dado a um atacante quebra-galho.

Avalio como um péssimo negócio manter Mario Götze como opção para o ataque. Especialmente porque isso impede que o Borussia Dortmund contrate um atacante que seja, de fato, decente. Neste sentido, caso o meia não aceite uma redução salarial, liberá-lo para negociar com outros clubes e ir em busca de um centroavante que atenda as necessidades do Borussia seria o cenário perfeito. Esse atacante, no mundo hipotético dos nossos sonhos, pode muito bem ser Sébastien Haller, francês que tem sido destaque no Eintracht Frankfurt, mas existem outras opções no mercado – o que é assunto para outro texto.
O cálculo que deve ser feito para mim é simples: vale mais no elenco um semi-atacante inconsistente ou alguém da posição de qualidade comprovada? Götze e Alcácer alternaram entre titularidade e reserva por conta de um elemento em comum, o fato de que ambos se mostraram inaptos a assumir em definitivo a posição no ataque aurinegro, ainda que os números possam ser usados para apontar o contrário. Qualquer um que assistiu aos jogos do Borussia Dortmund na última temporada sabe muito bem que as estatísticas não refletem a realidade.
Se Götze voltasse a ser considerado como meio-campista, minha opinião seria diferente. Porém, tudo que Lucien Favre fez com o meia alemão aponta para o contrário. Desconsidero nesse texto o rancor burro que muitos torcedores ainda tem em relação a Mario Götze, algo que sequer deve entrar na equação, porque a discussão em torno do novo contrato só depende de duas coisas: o planejamento do Borussia Dortmund e o bom senso da diretoria e do próprio jogador. Cabe a Götze reconhecer que não é o segundo maior deste elenco do Borussia Dortmund e, se não for capaz chegar a essa conclusão, talvez seu destino seja mesmo longe do Westfalenstadion.