
Mudança de esquema tático beneficiou Marco Reus
Quer queiram, quer não, é fato que a temporada 2019-2020 de Marco Reus começou com um desempenho aquém do exigido de um capitão. Dono do maior salário do Borussia Dortmund, o camisa 11 oscilou com o restante da equipe e não conseguiu guiar o clube para longe das ondas turbulentas navegadas pelos comandados de Lucien Favre. Porém, a sorte de Reus mudou quando Favre tentou algo novo – e o novo esquema tático do Borussia permitiu que o meia (atacante?) voltasse a ter atuações importantes.
Nas redes sociais somos criticados por criticar Marco Reus. Alguns não entendem o motivo da cobrança, outros entendem, mas preferem cegamente blindar o jogador após atuações ruins envolvendo-o na armadura na gratidão pelo amor ao clube – como se isso por si só o isentasse de qualquer culpa. Criticamos quando a crítica é cabível, mas também elogiamos quando os elogios são merecidos. Depois de meses de rendimento abaixo da média e críticas – por vezes duras, é verdade -, precisamos ser justos ao apontar a evolução de Reus nos momentos finais do primeiro turno da Bundesliga.
Desde que o time passou a atuar com três zagueiros e Favre sacou um dos jogadores do quarteto de ataque, adiantando Reus e dando mais movimentação ao setor com as parcerias de Thorgan Hazard e Jadon Sancho, o desempenho do conjunto melhorou. Essa melhora é um ciclo virtuoso: o sistema fez com que o conjunto encaixasse melhor, o conjunto encaixou melhor porque individualmente todos subiram de rendimento, e estes subiram de rendimento por conta do novo sistema – e assim sucessivamente. Aos 30 anos, Reus está muito mais apto a desempenhar a função de falso 9, como um atacante centralizado de movimentação, do que a função de armador que fazia no sistema utilizado previamente.

É indiscutível que as lesões transformam os jogadores. Com Marco Reus não foi diferente: o camisa 11 perdeu parte da explosão, a mobilidade característica de ataques agudos dos primeiros anos de carreira, em especial nos duelos de 1 contra 1, agredindo de frente a defesa adversária. Esse declínio é também é reflexo da idade, mas não significa que Reus não tenha adquirido outras características importantes. O problema até então vinha sendo sua utilização: seu lugar no time deve estar adequado às qualidades que tem agora, e não ao que tinha cinco anos atrás.
Centralizado no ataque, Reus tem movimentação e leitura de espaços acima da média para a posição. Enquanto armador, porém, deixa a desejar por não ter mais a mesma dinâmica para transitar entre os setores de meio-campo e ataque. Como exemplo tomo Julian Brandt: é notável a diferença no rendimento do time desde que assumiu a criação de jogadas. Afirmar que as principais armas de Reus mudaram com seu envelhecimento não é diminuir o camisa 11, mas admitir a verdade para potencializar o talento que tem e não desperdiçar o que o jogador ainda tem para acrescentar ao time.
Há algum tempo é possível notar que Marco tornou-se um finalizador ou provedor do último passe, e não mais o meia agudo capaz de enfileirar defensores, fazendo por 90 minutos idas e vindas entre defesa e ataque. Isso não é o mesmo que dizer que, em determinado momento da partida, não pode proporcionar uma arrancada ou partir com a bola dominada em diagonal, entretanto, esse não é mais o principal forte de Reus. Ouso dizer que Reus precisa a partir deste momento ser visto como atacante, e não mais como meia.

Fazemos duras críticas porque são inúmeros os fatores que, somados, deveriam resultar em uma maior cobrança sobre Marco Reus. Dono do maior salário do clube, capitão, liderança técnica e emblemática do clube, não pode ser tratado com a mesma responsabilidade que jovens e recém-contratados. Reus deve ser cobrado porque está em destaque e pode fazer muito mais.
Ao mesmo tempo, precisamos sempre ser muito justos em relação as críticas realizadas para não banalizar a cobrança. No caso de Reus, fica evidente com a mudança de esquema tático de que o atacante vinha sendo prejudicado pelas ideias de Lucien Favre – assim como tantos outros do elenco. O que se pedia de Marco no esquema utilizado no início da temporada claramente não se encaixa no que o atleta pode oferecer no momento e a mudança tática deixou esse fato escancarado.
Prestes a completar 31 anos no próximo mês de maio, Reus passa por uma transição natural de carreira, onde qualidades antigas dão lugar a novas virtudes, em um novo ritmo, com uma diferente condição física. Para que possa render o seu máximo necessita de adaptações, como a realizada por Favre. Se Reus for utilizado de modo correto, sua vida útil pode ser de mais três ou quatro temporadas em alto nível – mas se o treinador insistir em enxergar no atacante o passado ao invés do presente, o que teremos em campo é o subproduto que pudemos presenciar nos primeiros momentos dessa temporada.