
Jadon Sancho precisa ser o novo símbolo do Borussia Dortmund
Nos últimos anos o rótulo de clube vendedor foi colocado sobre o Borussia Dortmund. De fato, contra números não há argumentos e não podemos ignorar que o clube realizou mais vendas do que investimentos em contratações, até pelo modus operandi adotado pela diretoria aurinegra: comprar barato e vender caro. Também é verdade que esse método foi uma das maneiras encontradas para salvar as finanças e tentar manter a competitividade no limite do possível.
Pouco se fala, mas a importância destas vendas para o Borussia vai muito além dos números. Há não muito tempo, em 2005, o clube estava afundado em uma dívida de 180 milhões de euros. Curiosamente, havia sido campeão europeu sete anos antes muito por conta de um método diferente de hoje em dia: altíssimos salários aliados a contratações exorbitantes. Assim, a conta chegou anos depois com as receitas sendo bloqueadas, o Westfalenstadion sendo hipotecado e com o clube bem próximo da falência.
A mudança de mentalidade deu-se com a chegada de Watzke e Zorc, que conseguiram desenvolver uma filosofia tanto dentro, como fora de campo. Apostando nas categorias de base, a dupla mudou um pouco sua metodologia e passou a também contratar jovens jogadores. E foi dessa maneira que Jadon Sancho, por cerca de 8 milhões de euros, chegou à Dortmund no último dia da janela de transferências do verão europeu de 2017.

Destaque nas categorias de base do Manchester City e da Seleção Inglesa sub-17, Sancho decidiu não renovar seu contrato com a equipe inglesa e ficaria disponível para assinar com qualquer clube. No entanto, com medo de sanções da FIFA, o Dortmund decidiu pagar uma quantia simbólica pela sua contratação. O que na época já era um mero valor, hoje pode ser considerado quase de graça. Além do mérito da diretoria em apostar num jogador que sequer havia estreado oficialmente, a equipe de olheiros deve ser ainda mais enaltecida por ter lhe encontrado.
Como comitê de boas-vindas, Sancho mostrou uma ambição enorme ao chegar no clube e escolher a camisa 7, mesmo sem saber se seria integrado logo de cara aos profissionais. Na sua primeira temporada pelo time profissional, começou nem sendo relacionado e terminou como titular. É nítido que tinha chegado ao Borussia com um bom nível, mas a rápida ascensão demonstrou que ali constava talento puro.
Direta ou indiretamente, o jovem inglês foi o substituto do Dembélé, até por ter sido oficializado como novo reforço cinco dias depois da venda do atacante francês. Em campo, o estilo similar entre os dois fica ainda mais claro. Ambos conseguiram despontar como jogadores extremamente habilidosos e inteligentes, capazes de fazer a diferença. Fora que a semelhança nas estatísticas dos dois constatam isso. Mesmo assim, Jadon Sancho parece se desenvolver como um atleta mais completo e precisa ser o indício de um Borussia Dortmund, assim como ele, ambicioso.

Diferentemente de anos anteriores, o Borussia agora é sólido financeiramente e dispõe de uma estrutura de primeiro mundo. Da perspectiva de um jovem jogador, a premissa do tempo de jogo para quem está começando tem seu peso e isso é claro. Porém, a atratividade se dá quando acontece uma mistura equilibrando o lado financeiro com o esportivo, e historicamente isso faz parte do DNA aurinegro. Não dá pra contar nos dedos a quantidade de jovens jogadores que passaram anos e mais anos frequentando o Signal Iduna Park.
A grande questão é que as épocas mudaram e, consequentemente, as cifras se descontrolaram. É difícil segurar um jogador que recebe uma oferta duas, três, quatro vezes mais rentável. Nos últimos anos tem se tornado cada vez mais difícil a tarefa de concorrer com os ricos contratos oferecidos pelas principais ligas da Europa. Entretanto, o Dortmund faz parte de um campeonato que mesmo tendo um poder econômico inferior à Premier League, tem outros fatores positivos que precisam ser explorados.
Atualmente não há liga no mundo que consiga desenvolver melhor jovens jogadores do que a Bundesliga, e esse talvez tenha sido o grande trunfo do Dortmund ao conquistar a confiança do Sancho e de outros juvenis. Ademais, já passou da hora dessa mesma confiança obtida no início da carreira ser mantida com projetos ambiciosos e adequação ao status que o próprio jogador conseguir atingir. Como exemplo, não há nada na mídia que indique uma renovação ou alguma manutenção salarial no contrato do Sancho, mesmo após o alto nível apresentado na última temporada.

Para o clube aurinegro conseguir atrair e mostrar a Sancho que é mais interessante permanecer em Dortmund do que se submeter a um possível retorno para a Inglaterra, além de um plano efetivo de carreira, os títulos precisam aparecer. No caso, o aspecto técnico do jovem inglês de 19 anos pode fazer a diferença nisso. Dono de um potencial absurdo, Sancho possui a capacidade de elevar o patamar do Borussia como um todo.
Porém, por parte da diretoria, é preciso ter cautela para não se tornar refém do jogador e seu staff. Sancho já demonstrou ser um jogador extremamente essencial para as pretensões a curto, médio e longo prazo. Isso é inegável. Ainda assim, está longe de poder ser intitulado ou se achar dono do clube. Parece que não, mas ele possui somente 19 anos, e isso deve ser levado em consideração acima de qualquer decisão tomada a seu respeito.
Antes de mais nada, o Dortmund, se quiser ir além da austeridade financeira, precisa mudar o panorama envolvendo o entendimento que o mundo tem a seu respeito. Para isso, a manutenção da permanência do Jadon Sancho pode ser peça-chave, demonstrando ambição e uma postura de um time que quer se desvincular do passado. No entanto, esse mesmo passado não pode ser esquecido nunca, a fim de evitar a arapuca que valores excessivos podem armar e mudar, mais uma vez, os rumos do clube.