
Dortmund ousa e arrisca ao se desfazer de Toprak
Com extrema celeridade o Werder Bremen concluiu na última semana a negociação para contar com os serviços de Ömer Toprak. O turco deixa o Borussia Dortmund após duas temporadas e assina por empréstimo de um ano, com obrigação de compra a ser exercida caso o defensor cumpra um número pré-determinado de partidas pelo Bremen. A transferência futura está fixada na faixa dos 6 milhões de euros.
O lado financeiro é, talvez, o mais importante para entender o negócio que foi acordado pelos clubes. Além dos cerca de 6 milhões que deve receber na próxima temporada, o Dortmund recebe 1.5 milhão como compensação pelo empréstimo de um ano. Como o zagueiro tem contrato até 2021, o clube consegue ainda economizar 10 milhões de euros que teria que desembolsar com os pouco mais de 5 milhões correspondentes ao salário anual do atleta. Ao todo, o negócio deve significar quase 20 milhões de euros nos cofres do Borussia.
Em meio a entraves contratuais com Raphaël Guerreiro e Mario Götze, o Borussia Dortmund se desfez nesta janela de outros bons ganhadores, como Sebastian Rode, André Schürrle e Maximilian Philipp, muito por conta também das chegadas de Nico Schulz, Mats Hummels, Thorgan Hazard e Julian Brandt. Depois de um esforço hercúleo para fortalecer o elenco, a diretoria age com responsabilidade priorizando a saídas de atletas com altos salários e baixo rendimento porque sabe que não se pode dar o luxo de investir alto em atletas que nunca passaram do status de reservas.

Entender o lado financeiro é importante porque analisando unicamente por critérios técnicos a negociação de Toprak é algo ousado e altamente questionável quando consideramos as ambições do Borussia Dortmund. É fato que o turco nunca conseguiu se consolidar no onze inicial e muitas vezes teve atuações mais inseguras do que os mais jovens e menos experientes Akanji, Zagadou e o finado Diallo, da mesma forma que não podemos deixar a boa pré-temporada e grande atuação na Supercopa maquiarem a instabilidade dos últimos dois anos. Porém, em termos de montagem de elenco, creio que Toprak era peça necessária.
É preciso ter em mente que a contratação de Hummels teve o pretexto de agregar experiência, porém na prática o Dortmund acaba trocando seis por meia dúzia. De uma defesa que tinha Akanji-Diallo, Toprak-Zagadou em 2018-2019, vai com Akanji-Hummels, Balerdi-Zagadou para 2019-2020. O Dortmund abre mão de um zagueiro experiente na reserva, onde é a posição ideal de um veterano na hierarquia do elenco, para depender de um atleta na faixa dos 30 anos para o centro do setor defensivo. O reserva experiente, por consequência, dá lugar a um garoto pouco testado e que quando exigido será colocado em uma prova de fogo.
A rigor, a diretoria do Borussia Dortmund falou muito, pesquisou e trabalhou demais, para fazer uma simples inversão de papéis e optar por um conjunto muito mais arriscado do que o da temporada passada. O contratado foi a opção mais preguiçosa possível, que é o velho conhecido Mats Hummels. E agora o sucesso ou fracasso dessa decisão passa exclusivamente pela capacidade de Hummels de se manter inteiro fisicamente durante toda a temporada. Essa é uma aposta que eu não faria.

Outro sinal que essa transferência dá ao torcedor é o evidente voto de confiança em Leonardo Balerdi, que parece ter conquistado a comissão técnica no primeiro semestre de treinos e com as atuações sólidas da pré-temporada. Também é preciso registrar que isso ainda é o sentido lógico das coisas, uma vez que o argentino custou 15 milhões de euros aos cofres do clube. É um investimento alto para os padrões do Borussia e que não faria muito sentido se tivesse como destino sequências de empréstimos que pouco agregam ao clube e jogador.
Ainda acho que é arriscado contar com Balerdi, mas é uma aposta que, pelo menos no papel, é compreensível e justificável. Existe também a evidente vontade de Ömer Toprak ser titular, e isso o zagueiro terá no Werder Bremen. Com a concorrência e desconfiança, o defensor dificilmente ocuparia uma função de mais destaque no Dortmund. Essa transferência permite que permaneça no Campeonato Alemão e atue por um time estruturado e muito bem treinado por Florian Kohfeldt, um dos técnicos revelação da temporada passada.
Para Toprak, a transferência é um passo natural da carreira. Para o Borussia Dortmund, porém, essa negociação significa uma escolha arriscada e que pode custar caro no decorrer da temporada. Longe de mim defender a permanência de Toprak, mas com o elenco atual o Borussia deveria ter sido mais cauteloso antes de se desfazer do zagueiro.