
Diallo no PSG era uma transferência inevitável
Abdou Diallo foi anunciado nesta terça-feira (16) como reforço do Paris Saint-Germain para a temporada 2019-2020. O defensor de 23 anos assinou contrato de cinco anos com o clube francês, ratificando sua saída do Borussia Dortmund apenas uma temporada após ser contratado. Diallo custou 32 milhões de euros aos cofres do PSG, com mais dois milhões de euros possíveis em bônus variáveis.
Nessa curta passagem do atleta pelo clube aurinegro, me parece evidente que a saída não se trata de um erro de planejamento do Borussia Dortmund ou má condução de um membro valioso do elenco por parte da comissão técnica. Diallo está saindo porque opta por se esquivar da competição, demonstrando ser muito menor do que imaginávamos.
O argumento comum é que a contratação de Mats Hummels estremeceu a hierarquia da defesa. Isso é, em partes, uma verdade. Porém, é um erro considerar como algo negativo. A chegada de mais um defensor era uma necessidade, e trazendo o melhor zagueiro da última temporada da Bundesliga, o Borussia Dortmund promoveu um salto na qualidade do elenco. Isso, por si só, não é o que colocou Diallo da porta para fora.
Ainda de acordo com a versão mais publicizada, Abdou Diallo supostamente não teria gostado da contratação de Hummels, que implicaria na sua ida para a reserva da defesa. De fato, o jogador não faria parte da linha defensiva ideal do Borussia, mas muito dificilmente isso significaria seu esquecimento. Terceiro do elenco com mais minutos em campo na temporada 2018-2019, ele seria o reserva imediato dos dois zagueiros e de Schulz na lateral-esquerda.

O oportunismo para buscar uma saída no primeiro indício de concorrência indica, porém, um aspecto muito negativo que mudou minha visão sobre Diallo. Faltou ao zagueiro paciência para entender a nova situação do elenco, assim como faltou coragem para tentar recuperar seu lugar entre os titulares de Lucien Favre. Ao fugir da disputa com um zagueiro veterano, que acredito não ter mais do que dois anos de futebol de alto rendimento restantes, o jogador demonstra uma fragilidade inesperada.
Essa mentalidade, inclusive, é o que motivou a diretoria a não resistir ao pedido de negociação e acelerar as conversas com o Paris Saint-Germain. Matthias Sammer chegou ao Dortmund repetindo aos quatro ventos que busca Mentalitätsspieler, jogadores de resiliência, determinação, e o discurso pegou bem com Watzke e Zorc. A reação de Diallo em relação a contratação de Hummels vai totalmente contra o que o Dortmund busca para seu elenco.
Dito isso, concluo que a venda era, portanto, inevitável. Todavia, nada disso significa que não deve fazer falta. Ao longo da negociação, pude notar nas redes sociais um excesso de reações positivas a negociação de Diallo, como se o defensor fosse insuficiente para o Dortmund ou apenas mais um traste da defesa. Devo discordar dessa posição: o Borussia perde um zagueiro de alto nível técnico, versátil, e que não à toa conseguiu desembarcar no Paris Saint-Germain.

Por ter atuado na última parte da temporada improvisado por Favre na lateral-esquerda, acredito que se subestime o valor das exibições de Abdou com a camisa aurinegra, em especial na primeira metade de 2018-2019. Formando dupla de zaga com Manuel Akanji, foi sólido em campo, constante com o passar dos meses, e tecnicamente muito superior a tudo que vimos no Dortmund nos últimos anos – a exceção do próprio Akanji.
Sem o camisa 4, restam ao Dortmund ainda Dan-Axel Zagadou, que agora não deve mais ser negociado, Ömer Toprak, que dá a entender que prefere ficar e ser reserva do que deixar o clube, e Leonardo Balerdi, que supostamente pode tentar um empréstimo para encontrar ritmo de jogo e adaptação. Com a dupla de zaga titular definida entre Akanji e Hummels, enxergo o restante da cena do miolo da defesa com relativa indefinição. O Dortmund não tenta ativamente promover nenhuma grande mudança, mas não se fecha a possibilidade de mais movimentações nesse mercado.
A certeza é que, sem Diallo, o Dortmund parece a princípio perder um zagueiro que, tecnicamente, poderia acrescentar muito ao lado esquerdo da defesa. Porém, psicologicamente o atleta mostra que talvez não fosse o mais adequado para os novos rumos do clube. Entre manter um atleta inseguro e insatisfeito ou seguir em frente, prefiro sempre a segura alternativa.